A HISTÓRIA DA BATERIA

*Por César Luiz de Freitas

Provavelmente você é uma pessoa que gosta de música e sabe o valor que essa arte possui e também reconhece o poder de influência que ela tem em nossas vidas.

Para os mais diversos acontecimentos na vida humana certamente haverá uma “trilha sonora”. No casamento, no aniversário e nas cerimônias oficiais dos mais diversos ramos e atividades sempre haverá alguma música como parte do evento e do momento. Até na despedida deste plano, no funeral, há um som característico.

E também na nossa vida cotidiana é comum estarmos ouvindo alguma música. Seja no radio ligado no carro ou na cozinha enquanto preparamos nossas refeições, assistindo algum show musical na tv ou na internet ou mesmo com nosso player pessoal onde colocamos nossas canções de preferência. É natural do ser humano estar ouvindo música!

No entanto, você sabia que as músicas que você ouve atualmente, nem sempre foram assim? Daqui a pouco você compreenderá isso melhor!

É no mínimo razoável afirmar que a maioria das músicas que eu e você já ouvimos, e ainda continuamos a ouvir, possuem não só as belas vozes dos cantores e cantoras, não só os magníficos acordes e solos de guitarras e violões, as marcações exatas dos graves no contrabaixo, não só as maravilhosas notas tocadas nos pianos e tantos outros instrumentos de arranjos musicais; mas também ouvimos o inconfundível ritmo e sons das batidas na Bateria! Definitivamente é este instrumento que rege o ritmo de qualquer música!

A Indústria Musical como conhecemos atualmente foi drasticamente modificada no século 20, devido à revolução no início dos anos de 1910 com o surgimento dum instrumento bem peculiar e grandiosamente inovador: a Bateria Acústica!

Para entender um pouco melhor a trajetória da Bateria, é interessante desmembrá-la, já que seus componentes começaram separadamente. Os tambores são as partes da Bateria que estão no mundo há mais tempo, desde o período neolítico há aproximadamente 7.500 anos lá na Pré-História.

Tudo começou com tambores simples. Os tambores mais antigos do mundo como bongôs, tímpanos, tamborins, pandeiros e congas, foram descobertos através de escavações arqueológicas na região da Morávia, na República Tcheca e através da utilização do Carbono 14 foram datados dessa época neolítica. Eram utilizados em rituais religiosos por nossos antepassados quando estes queriam pedir ou oferecer algo aos deuses.

Acredita-se que os antigos tambores eram feitos com pedaços de troncos ocos e cobertos com a pele ou couro de animais.

Passado o tempo, e já estamos no século 19, os componentes da bateria eram tocados separadamente. No começo do século 20, as bandas do exército e orquestras já contavam com percussionistas. Geralmente eram três, pois um ficava com o Bumbo, outro com a Caixa e mais um músico com os Pratos. Alguns também tocavam “blocos de madeira”, que adicionavam os efeitos sonoros à música. Imagine um grupo musical no ano de 1900 onde era composto por seis músicos, e que metade deles era somente para tocar a “bateria” da época…

Mas com a invenção de um artefato especial tudo mudou e uma verdadeira revolução instrumental surgiu: o Pedal de Bateria ou atualmente denominado de Pedal de Bumbo.

A ideia de juntar todos esses instrumentos, onde havia uma pessoa para tocar cada um, para que uma só pessoa conseguisse tocá-los ao mesmo tempo, só foi possível com a inovação e invenção do primeiro pedal prático que foi inventado em 1910 por Willian F. Ludwig, que criou o primeiro modelo de madeira e logo depois, com o aumento da procura, passou a desenvolver junto com seu cunhado Robert Danly, o modelo do pedal em aço que foi vendido para milhares de bateristas e serviu de base para criação dos modelos mais avançados que temos hoje. William e seu irmão Theobald fundaram uma das maiores e melhores indústrias de instrumentos musicais de todos os tempos, a Ludwig Drums criada em 1909, e que permanece até os dias de hoje com uma das “titãs” na fabricação das melhores Baterias do mundo.

Então no início da década de 1910 os primeiros bateristas apoiavam as partes da Bateria em cadeiras, banquetas ou demais móveis que ajudassem a montar a composição. E nas bandas militares, orquestras e demais conjuntos musicais também se utilizavam correias para dependurar a Caixa nos ombros para poder tocá-la.

Por isso, outra invenção que facilitou a vida dos primeiros bateristas, e que foi aparentemente simples e que possibilitou o surgimento da Bateria como conhecemos atualmente, foi a Estante para Caixa.

Este acessório fora criado para apoiar a Caixa ao invés de apoiá-la em outros lugares como descrito anteriormente. Essa “brilhante” invenção também surgiu na década de 1910. Com o tempo, esses materiais de suporte foram ficando melhores e um único músico já conseguia fazer o trabalho que anteriormente era feito por três ou mais pessoas.

Uma vez que pedais e suportes para caixas práticos se tornaram disponíveis e um único baterista poderia executar o trabalho antes feito por três, enfim nasceu a Bateria – ou “trap set” como foi chamada inicialmente.

Atualmente, a Bateria como conhecemos é um conjunto de tambores (de diversos tamanhos e timbres) e de Pratos colocados de forma conveniente com a intenção de serem percutidos por um único músico, denominado baterista, geralmente, com o auxílio de um par de baquetas, vassourinhas ou bilros, embora no caso de alguns executantes possam também ser usadas às próprias mãos para percutir sons com a bateria acústica.

Em evolução constante, a Bateria recebe cada vez mais atenção de fabricas e engenheiros, que pesquisam junto aos bateristas para desenvolver os melhores modelos de cascos, baquetas, ferragens e pratos. As inúmeras fábricas crescem a cada dia no mundo e no Brasil e nós, como admiradores da música de um modo geral, também podemos observar melhor e estarmos atualizados com essa evolução, buscando a cada dia conhecer mais não somente a música e sua arte, mas também o instrumento Bateria. Por que não, não é mesmo?

Não existe um padrão exato sobre como deve ser montado o conjunto dos elementos de uma bateria, sendo que, o estilo musical é por muito indicado como uma das maiores influências perante o baterista no que diz respeito à disposição dos elementos, sendo que, a preferência pessoal do músico ou as suas condições financeiras ou logísticas, são os fatores indicados por outros como os mais importantes.

Entretanto, o antigo “trap set” e agora denominado “set drum” ou “drum set”, dependendo da região no mundo, pode ter configurações mais simples e com menos peças e tambores, e podendo variar para montagens maiores do instrumento de acordo com o número de peças e tambores disponíveis para o baterista.

O baterista toca no instrumento sentado sobre um banco, de forma a manter a Caixa entre as pernas e estas por sua vez deverão ficar ligeiramente abertas. No caso de bateristas destros, o pé esquerdo assentará sobre o pedal do prato de choques (comumente denominado de Chimbal) e o direito sobre o Pedal de Bumbo, sendo que, muitos bateristas canhotos adaptam uma postura simétrica a esta.

Alguns bateristas usam um segundo Bumbo, ou um Pedal Duplo, percutido através do pé que geralmente aciona o prato de choques, sendo necessário o uso de algumas técnicas adicionais de forma a conseguir manter a coordenação entre os diferentes ritmos musicais que a música eventualmente possa exigir.

Passados setenta anos desde o nascimento da Bateria Acústica na década de 1910, surge então a Bateria Eletrônica!

A bateria eletrônica nasceu em 1980. As marcas pioneiras Simmons, Yamaha e Roland, trouxeram a inovação de baterias com sons pré-gravados. Além disso, os modelos eletrônicos também possibilitaram a gravação de sons que eram ativados sempre que o instrumento era tocado. Temos aqui outra grande revolução não só no instrumento Bateria, mas na música em geral.

O sucesso da Bateria é evidenciado e notado até hoje!

Não há como não falar dessa história sem mencionar a pessoa que usa de sua técnica e habilidade para tocar esse sensacional instrumento musical, o baterista. Abaixo segue, dentre inúmeros, os principais bateristas masculinos e femininas da história.

Apresento alguns dos bateristas mais influentes e mais premiados do mundo na história musical em que podemos dar grande destaque: Gene Krupa, Buddy Rich, Carl Palmer, Ian Paice, Bill Bruford, Ringo Star, Keith Moon, Vinnie Colaiuta, Neil Peart, Terry Bozzio, Ginger Baker, Steve White, Josh Freese, Mike Portnoy, Jeff Porcaro, Cozy Powell, Thomas Lang, Stephen Morris, Gavin Harrison, Gabriel Ramaccioti, Tré Cool, Steve Gadd, Carter Beauford, Dave Garibaldi, Mike Mangini, Peter Criss, Roger Taylor, Nick Mason, Lars Ulrich, John Bonham, Bill Ward, Travis Barker, Marky Ramone, Dave Grohl, Nicko McBrain, Dennis Chambers, Dave Weckl, Neil Peart, Joey Jordison, Chad Smith e Stewart Copeland.

Também destacamos as melhores e mais premiadas bateristas femininas da história do instrumento: Samantha Maloney, Maureen “Moe” Tucker, Hannah Ford, Maya Tuttle, Cindy Blackman, Elaine Bradley, Régine Chassagne, Karen Carpenter, Kim Schifino, Debbi Peterson, Scarlett Stevens, Janet Weiss, Sandy West, Anna Prior, Meg White, Vicky Jean Smith, Torry Castellano, Caroline Corr, Gina Schock, Carla Azar, Pamela Racine, Terri Lyne Carrington, Demetra Plakas, Linda McDonald, Patty Schemele, Sheila E., Paulina Villarreal, Leah Shapiro, Jean Ledger, Roxy Petrucci, Stefanie Eulinberg, Nicki Wicked, Lux Drumerette, Kate Schellenbach, Julie Edwards, Lori Barbero, Lori Peters, Elise Trouw e a talentosíssima Meytal Cohen.

No Brasil há a presença ilustre de Lielson Faria, que se destacou na década de 1990 por ter construído seu próprio instrumento, além de ter uma pegada animalesca. Temos também os grandes bateristas brasileiros de destaque como Igor Cavaleira, Eloy Casagrande, João Barone e Aquiles Priester, este último é considerado por muitos dentro do universo musical, e em especial no universo dos bateristas, como o mais disciplinado e determinado dentre os bateristas nascidos no Brasil.

Já entre as bateristas femininas tupiniquins o destaque vai para a querida Vera Figueiredo, que por muito tempo foi a baterista titular da banda oficial de programas do apresentador Serginho Groisman, como o Altas Horas da TV Globo e Programa Livre do SBT, e também nossa maravilhosa baterista mirim Eduarda Heinklein (Duda Heinklein), a catarinense de Joinville nascida em 2009 é a baterista profissional mais jovem do Brasil, tendo recebido em 16 dezembro de 2015, aos seis anos de idade, em sua cidade natal, o título e troféu de Baterista Feminina mais Jovem do Brasil pela empresa RankBrasil, que registra recordes no país. Ela também é uma das mais jovens do mundo! Seu talento já foi presenciado em 4 continentes e mais de 30 países ao redor do planeta.

A Bateria continua sendo um instrumento que encanta muitas pessoas. Tenha certeza de que há músicas magníficas tocadas sem a presença de sons de percussão, porém acrescente um som de batida, uma percussão ou uma Bateria que vai perceber a “diferença” de imediato, diferença essa que será para melhor!

Seja acústica ou eletrônica, ela está sempre recebendo melhorias e se atualizando com o tempo através de novas tecnologias e inovações das indústrias instrumentais e de seus acessórios.

Entre as marcas de baterias que fizeram (e ainda fazem) história e sucesso no Brasil incluem-se a Pinguim, a Saema e a Gope (entre os anos 1960 e 1970), e mais recentemente a RMV Brazilian Percussion (filial da norte-americana RMV Drums) na década de 1990, e a memorável Odery Drums (do lendário e incrível “Sr. Odery” (vale a pena conferir a história deste homem que é um dos mais respeitados dentro da indústria de instrumentos musicais do planeta) tendo seu início com uma Bateria “Handmade”, ou seja, feita à mão!

Mas afinal de que são feitos os cascos dos tambores duma Bateria?

Com o surgimento de novas tecnologias e a importação de ferragens e acessórios, novas fábricas na década de 1980 começam a fabricar os cascos em Cedro, Marfim e Bapeva utilizando-se de ferragens americanas como a Luthier, RMV e Fischer. Incluem-se também neste período várias fabricas de acessórios como a Ziltannam e a Octagon (pratos), C.Ibanez e a Liverpool (baquetas), RMV e Luen (peles sintéticas), Rock Bag (cases e bags, as famosas capas/bolsas para Bateria e acessórios) dentre outros fabricantes, e que se juntam com as tradicionais fabricantes que estão desde os anos 1950, que usam inovações tecnológicas para Bateria e acessórios, como a Remo Drumheads e Evans Drumheads (peles sintéticas) e a Vic Firth (baquetas) para cada vez mais buscar melhorias na confecção tanto dos cascos quanto de todos os outros acessórios de Bateria.

Mundialmente marcas como DW (Drum Workshop), Gretsch, Tama, Pearl, Ludwig, Sonor, Yamaha, Premier, Mapex, dentre outras, são líderes na fabricação das melhores baterias e ferragens. Para citar os melhores pratos feitos à mão ou por meio de máquinas, e de diferentes ligas de metais, podemos enumerar a Zildjian, Sabian, Paiste e Meinl com seus imensos sucessos comerciais e de altíssima qualidade de seus produtos que fazem brilhar ainda mais as performances dos bateristas mundo afora.

No Brasil destacam-se de longe os Pratos da fabricante Orion Cymbals criada em 1999 e líder em vendas e na qualidade de seus produtos.

De uma forma geral, os tambores das baterias são construídos em madeiras selecionadas, podendo também encontrar-se elementos construídos à base de plásticos, metais e/ou outras ligas.

Diversos fabricantes têm efetuado diversas experiências de forma a obter os melhores sons a partir da madeira, tendo concluído que o Mogno, a Bétula e o Plátano produzem as madeiras mais aceitas para a construção destes instrumentos. Já em relação às tarolas (caixas), as ligas metálicas baseadas em aço, latão ou cobre são as preferências para a fabricação dos modelos de caixas para Baterias de iniciação, embora os modelos fabricados em madeira de Bétula e Plátano tenham melhor aceitação nos modelos de caixas mais sofisticadas.

No Brasil, apesar de certo atraso em relação aos produtos americanos e europeus, desde a década de 1960 há indícios da fabricação de baterias pré-montáveis. Originalmente usava-se o Cedro como material para a produção de cascos e casualmente o Pau-marfim. Hoje a indústria brasileira já inova neste conceito utilizando madeiras certificadas como a Bapeva que é uma madeira com o dobro de densidade do Maple americano (o mais utilizado para a produção de cascos de bateria), ou seja, mais dura e mais resistente.

Um conjunto de elementos para a Bateria, considerado por muitos como o mínimo para constituir uma bateria, contém os seguintes instrumentos:

Tambores:

• Um bumbo, no chão, tocado com um pedal através do pé do baterista;

• Uma caixa, apoiada num suporte específico;

• Um par de tom-tons, geralmente colocados sobre o bumbo num suporte especificamente desenhado para o efeito;

• Um surdo.

Pratos:

• Um chimbal ou contratempo (Hi-Hat, em inglês), acionado por meio de um pedal;

• Um prato de condução (Ride, em inglês), apoiado num suporte geralmente em forma de tripé;

• Um ou mais pratos de ataque (os três tipos mais usados, com a designação em inglês: Crash, Splash e China), apoiados em suportes idênticos aos do prato de condução, colocados ao lado dos outros elementos.

Todos os materiais para a fabricação e desenvolvimento da Bateria e seus acessórios, são validados por diversos órgãos internacionais de proteção do meio ambiente e regidos por sistemas de leis onde são fiscalizados desde o plantio das árvores, da derrubada, cortes, licenças para exploração das áreas e alteração química industrial dos feixes de madeira para a confecção da futura Bateria.

Não há nenhuma relação ou registro de algum tipo de ilegalidade ou prejuízo, na natureza, por parte dos fabricantes de Baterias que respeitam as normas para a fabricação dos instrumentos e que possuem a certificação ISO 9001 (grupo de normas técnicas que estabelecem um modelo de gestão da qualidade), todos os fabricantes citados neste artigo possuem tal certificação.

Finalmente chegando ao final da leitura, onde tivemos o prazer e a companhia de inúmeras informações, algumas possivelmente você já sabia e outras talvez não, é com prazer e satisfação que celebramos o sucesso da Música e em especial, conforme o título deste artigo, o sucesso da Bateria através dos tempos!

*César Luiz de Freitas

42 anos

Profissional de Educação Física

Músico Baterista

Último período de Filosofia

Amante dos Desportos, da Filosofia e Mitologia Grega e da Natureza.

Seu lema é “Faça você mesmo”!

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